O céu era sempre tão azul em Vegas que até parecia cena de
filme hollywoodiano. Ainda era cedo, mas não o suficiente para ter visto Jake
sair de casa e lhe dar um beijo de boa sorte.
Finalmente me livrei das cobertas e fui para o
banheiro. Olhei o espelho, que
ultimamente parecia estar em um duelo pessoal contra mim, mas para minha
surpresa tinha um bilhete. Sorri ao reconhecer a caligrafia.
“Torre Eiffel hoje
minha dorminhoca, me encontre lá embaixo ás 19h30. Não se atrase.
Com amor, Jake”
Jake podia ter todos os defeitos do mundo, mas ainda sim era um
homem maravilhoso e eu me sinto culpada por estar omitindo uma grande parte de
mim, ele não merece ser enganado desse jeito! Mas eu não consigo reunir forças
para lhe contar sobre quem é a verdadeira Amberly, sei que estou sendo egoísta
e um pouco manipuladora, mas não quero e nem consigo ficar sozinha agora já que
lembranças decidiram me importunar e pelo jeito vai demorar ate elas me
deixarem em paz. Suspirei e me forcei a concentrar em escovar os dentes e tomar
um banho frio naquela manhã de verão.
Depois de longos minutos resolvi que já era hora de sair do
chuveiro, mas minha barriga compreendia que estava na hora de comer. Enrolei-me
na toalha preta, que combinava com todo o resto do banheiro, com os pés
descalços em direção a geladeira, ao abri-la vi o resto do almoço do dia
anterior revirei os olhos, e pelo visto não foram apenas meus olhos que
revirou, mas meu estômago também. Tirei a caixa de leite e para minha sorte
encontrei uma barra de chocolate que havia faltando apenas dois quadradinhos,
Jake provavelmente teria comprado pra mim, porém aquele chocólatra não agüentou
e atacou dois quadradinhos. Ri. Peguei o resto da barra e fui para o quarto
segurando com uma mão a toalha e com a outra o chocolate.
Joguei tudo em cima da cama trocando a toalha por um sutiã e uma
calcinha vermelha e por cima calça jeans escura quase preta, uma blusa branca
dos Beatles e uma sapatilha preta. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo, passei
base no rosto enquanto dava pequenos espaços para saborear o chocolate, e foi
assim até eu terminar a maquiagem ou até o chocolate acabar.
Me olhei no espelho realmente feliz com o resultado e dentro de
mim acendeu uma pontinha de esperança, uma esperança de que as coisas podiam
mudar, de que o destino tinha reservado uma boa vida para mim, esperança de que
eu ainda poderia viver sem medo, que eu ainda poderia ser livre e o melhor de
tudo, de que eu ainda poderia ser mãe outra vez. Franzi o cenho mexendo
rapidamente minha mão e a pousando na barriga, só de saber que já teve um
bebezinho ali dentro e que poderia ser meu, mas do mesmo modo que veio a
criança, tão de repente, do mesmo modo me foi tirado. Fechei os olhos me
lembrando da dor que eu senti e do quanto aquilo me trouxe magoas e sofrimento
que pude sentir as lágrimas se formarem ao conto dos olhos. Suspirei para
recuperar o pouco de coragem, que eu ainda tinha, e então abri os olhos, me
olhei mais uma vez enxugando as lágrimas insistentes que por sorte não borraram
a maquiagem.
Fiz mais alguns ajustes como colocar um brinco e pulseiras. Pronto
agora estou pronta. Peguei o celular, sim eu tinha um celular que era bloqueado
para fazer ligações a não ser para Trace, e me assustei ao ver que já eram
quase cinco horas, por quanto tempo eu fiquei no banho?
Dei mais uma espiada no espelho e logo sai.
*
Como era bom desfrutar da grande Las Vegas a noite quando você não
é obrigada a satisfazer os prazeres dias pessoas, era bom estar do outro lado.
Ver todas as luzes acesas a note em perfeita sintonia, como se tivessem
ensaiado aquele momento por dias até encontrarem a perfeição e o barulho dos
carros apresados para chegaram em casa, os murmurinhos dos casais apaixonados,
o vento acariciando meu rosto, tudo aquilo me fazia falta, são coisas tão
normais que eu raramente presenciava.
Eu estava parada em frente a Starbucks, decidi passar lá antes de
seguir para a Torre Eiffel, entrei na fila surpresa e feliz por não estar
lotado, como de costume. Eu prestava
atenção em tudo, desde o barulho do teclado da atendente até as pisadas fortes
e duras de alguns homens. Rapidamente a mesma atendente sorridente me chamou.
- Boa noite senhorita, em que posso ajudar?
- Quero um Frappuccino Choco Chip, por favor – Falei olhando a
moldura atrás dela.
- É a primeira vez que vem aqui em Vegas? - Ela me perguntou exibindo um sorriso de boas
vindas.
- Ah. – sorri sem graça por ter sido flagrada. – não, eu moro aqui
- Ah, me desculpe. – A mulher ficou um pouco envergonhada. – É que
notei a senhorita olhando o local com bastante atenção.
- Não precisa se desculpar. – Sorri. - É que não saio muito de
casa.
- Compreendo! Bom aqui está seu Frappuccino.
Mentira, ela não entendia nada do que passava. Mas não era hora
para chateações.
Peguei o copo e saí andando, já estava na hora de me encontrar com
Jake. Andei mais depressa possível e cheguei
num instante, o avistei apoiando o corpo
em uma perna impaciente. Ele estava tão bonito com uma blusa de malha justa
preta, que realçava seus bíceps definidos, calça jeans e um tênis, que eu o
havia dado de natal, com o cabelo bagunçado, mas sem perder o estilo.
Aproximei-me dele que quando me viu abriu o sorriso que eu tanto
me prendia. Ele veio ao meu encontro a medida que eu me aproximava, quando ficamos
bem próximos, de modo que eu sentia sua respiração na minha testa, fiquei a sua
frente de modo que seus braços me envolviam com ternura e proteção.
- Amby!
- Jake!
Ele deu um passo para olhar meus olhos e ambos riram.
- Isso ficou meio cena de filme de romance – Jake começou.
Não pude conter o riso.
- Você é ridículo, posso ter meu momento de atriz? – falei fazendo
uma pose.
- À vontade princesa, hoje a noite é nossa!
Joguei o cabelo para o lado, tentando disfarçar o rubor que
aparecera em meu rosto, mas no instante que joguei e olhei por cima do ombro vi
um homem sentado, que me chamou muita a atenção. Aquelas mãos me eram familiar.
Jake colocou a mão em minha cintura enquanto prestava atenção no guia, que iria
nos levar até lá em cima, e eu ainda olhava o homem de mãos familiares.
Ele tinha o corpo ereto, esfregava uma mão na outra e olhava para
os lados, quando ele finalmente levantou o olhar pude ver que ele estava
triste, o mesmo olhou pro céu, quando vi algo refletir a luz do luar, era uma
lagrima. Eu sentia a necessidade de me soltar de Jake e ir até ele ajudá-lo,
mas não poderia fazer isso. Olhei com mais atenção, quando nossos olhares se
cruzaram então pude conhecê-lo.
Era Zach.
- Amberly, você ouviu o que ele falou? As regras?
- Ouvi claro. – falei desviando o olhar dos olhos verdes de Zach.
- Ótimo, vamos.
Sinto o toque da mão fria de Jake em torno de minha cintura,
estremeço a esse toque. Ele me conduz a dar um passo, como em uma dança,
forço-me a andar por mais que eu queira ficar aqui embaixo e ir em direção a
Zach não posso.
Um suspiro de desanimo escapa por entre meus dentes.
Não demorou muito e logo estávamos vendo a silhueta das luzes ao
longe e algumas próximas, mas ainda assim eram de uma distancia proporcional.
Gosto do que vejo, é maravilhoso. A mão do meu namorado ainda está em minha
cintura e parece que ele não tem a pretensão de tirá-la tão cedo, me sinto como
um cachorro que usa coleira e não pode ir aonde quer.
De repente senti uma pontada em meu estômago, parece que ter visto aquele homem daquele jeito me deu um aperto. Mas o que eu poderia fazer? Decidi relaxar um pouco, fechei os olhos e inspirei o ar soltando-o vagarosamente, me lembrando das palavras de Jake " hoje a noite é nossa."
Continua. . . .